O direito ao trabalho




Caminhos para o Mercado de Trabalho
Oportunidade, educação e qualificação profissional são alguns dos desafios a serem superados por quem deseja espaço em um mercado cada dia mais competitivo

Luana Cardoso da Silva tem 16 anos e muitos sonhos pela frente. A estudante do último ano do Ensino Médio chega ao CAT (Centro de Apoio ao Trabalho) da Lapa em busca da realização do primeiro deles, a conquista de um espaço no mercado de trabalho. Com pouca experiência e quase nenhuma qualificação profissional, Luana expressa em poucas palavras o tipo de emprego pelo qual procura: “Qualquer coisa”, diz.


Centro de Apoio ao Trabalho da Lapa

Assim como a estudante, muitos são os trabalhadores brasileiros que buscam seu espaço na dura realidade do mercado de trabalho. E os desafios pela frente não são poucos, muitos menos fáceis. Segundo o professor de Economia da Universidade Nove de Julho, José Almeida Amaral Junior, antes de explicar as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores na busca pelo emprego, é preciso entender que em todas as economias do mundo o número de vagas de emprego nunca é suficiente para a demanda dos trabalhadores que desejam sair da informalidade, sem contar com a mão-de-obra que entra pela primeira vez no mercado. “Sempre haverá um percentual de desempregados. É muita gente nessa somatória”, explica o professor. “Mas o que não podemos tolerar são taxas altas”, completa.
Em número de desempregados, o Brasil não encontra-se em situação tão ruim. De acordo com os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego tem registrado queda nos últimos meses. Em abril, a taxa chegou aos 7,3%, a menor para um mês de abril desde 2002, quando o Instituto passou a divulgar sua pesquisa mensal. Uma queda de 0,3% em relação a março de 2010. Mesmo assim, se contarmos o número de pessoas, isso ainda significa cerca de 1.700.000 pessoas em idade ativa sem uma ocupação.

Falta Qualificação

Mesmo com o aumento da geração de emprego, os desafios para o trabalhador não param de crescer. Para conseguir uma vaga é necessário oportunidade, educação e qualificação profissional. “Cada vez mais o conhecimento de informática, em seus vários programas, de língua estrangeira, cursos técnicos e pós-graduação são necessários para os profissionais urbanos. Fazer faculdade há 20, 30 anos era praticamente uma garantia de segurança no futuro. Hoje, o indivíduo mal está terminando um bacharelado e já está pensando numa pós, numa complementação, num novo curso universitário ou extra-curricular”, explica o professor Amaral Junior.
No Brasil, esta qualificação profissional ainda é um desafio. E o processo começa na educação básica. Entre pessoas em idade escolar (4 a 17 anos), 4,1 milhão de crianças e adolescentes ainda não têm acesso a escolas, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, realizada pelo IBGE. E quando têm, nem sempre recebem educação de qualidade ou conseguem alcançar altos níveis de graduação. Muitas são obrigadas a abandonar os estudos muito antes da formatura.

Ineficiência das Políticas Públicas para o Emprego

Para auxiliar o trabalhador na inclusão no mercado de trabalho, o papel do Estado é fundamental. A necessidade de políticas públicas eficientes vai desde ações amplas, como a manutenção do crescimento econômico do país, que garanta a geração constante de empregos, até ações mais específicas, como as que ofereçam cursos de qualificação e orientação profissional ao trabalhador.
Entre as políticas públicas já desenvolvidas pelo poder público, a mais comum é a criação de instituições que oferecem serviços ao trabalhador. Em São Paulo, a Prefeitura criou os CATs (Centros de Apoio ao Trabalhador), que oferecem vagas de emprego, serviço de emissão de carteira de trabalho, orientação profissional, entre outros serviços. Segundo a gerente do CAT Lapa, Daiane Oliveira de Paula, estes centros oferecem, por mês, em média, mais de 12.000 vagas nas diversas áreas. “São vagas em diversos segmentos, desde a área operacional, administrativa até algumas gerenciais”, afirma.


Daiane Oliveira de Paula, Gerente do CAT Lapa

Essa aproximação entre trabalhadores e empresas que oferecem oportunidades tem papel importante na inclusão de pessoas no mercado de trabalho. Mas a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas para este fim vai muito além. Segundo Amaral Junior, “o trabalhador precisa de muitas políticas públicas que hoje não acontecem e tornam muito custosa a sua vida”. O transporte urbano de qualidade é um exemplo. “É preciso um transporte de melhor qualidade que possa levar as pessoas de forma mais confortável ao mercado de trabalho. Vagas em creches e escolas, para que as mulheres possam deixar os filhos, enquanto trabalham. Ampliação de escolas e cursos profissionalizantes”, exemplifica o professor.
É neste ponto que o Estado ainda falha. As políticas públicas são superficiais, nem sempre atendem ao que o trabalhador realmente precisa. No caso da estudante Luana, não recebeu qualquer orientação para melhorar seu currículo profissional ou realizar qualquer curso de qualificação. Saiu do CAT Lapa com uma carta de indicação para um vaga de atendente e contará com a sorte e a pouca experiência que possui, adquirida em trabalhos informais, para tentar seu primeiro registro em carteira.

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